Ancestralidade e o cultivo de amanhãs possíveis
- Vanessa Orewá
- 12 de jan. de 2024
- 2 min de leitura

A ancestralidade ensina que existe uma limitação humana, a impermanência da dimensão material, uma não substancialidade. Assim como no mito yorubá, onde Yá Onilé, Orixá feminina, que no meio de uma festa no panteão africano, cavou um buraco e se vestiu de terra. Lá dentro, ela se sentia melhor, e dessa maneira, por ter se vestido de terra, ela foi escolhida para reinar sobre este planeta. É tempo de reconexão com forças maiores que nós. É tempo de voltar-se para dentro e se conectar com essa vastidão que é o interior.
Esse vírus é denominado de coroa pelo seu formato. Essa simbologia pode nos fazer rever nossas atitudes, tirarmos nossa coroa narcisista e repensar comportamentos centralizadores, e de controle. Assim como quando Obaluaê dança e retira o seu Azé, sua coroa de palhas, e segue os atos de sua performance divina. Rei de tudo o que é vivo na terra, Obaluaê também dança com a morte. E num cenário como o que estamos vivendo, repensar o mundo sob a ótica da vida e da morte, nos coloca em posição de vulneráveis, dependentes e substituíveis. É tempo de viver a humildade.
A narrativa mitológica de Yá Onilé, fala também sobre reciprocidade, ciclos e trocas. Por ter recebido a gestão do planeta, Yá Onilé deveria receber amorosamente mais atenção do que todos os outros Orixás, uma vez que Yá Onilé é quem sustenta as águas, as matas, os animais e comporta os fenômenos da natureza, nos dá o alimento do corpo e da alma e faz gerar toda vida na Terra. Nosso sustento vem dela e para ela deve voltar. O que temos dado em troca ao planeta? Yá Onilé tem sido esquecida? Esse saber ancestral, nos faz pensar sobre como estamos cuidando de nossa casa. É tempo de reverenciar nossa base, respeitar nossa finitude, honrar o ventre divino.
É tempo de cultivar amanhãs possíveis pra nós!!
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